quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Êxtase with S.E.T.I. - Entrevista


Inspirado pelo centro de pesquisas que tem o foco em descobrir se há vida fora do nosso planeta, o SETI muito além deste instituto se tornou aos iniciados no que acontece no submundo dos sons bons o duo de Campinas S.E.T.I. formado por  Roberta Artiolli, voz/synths e Bruno Romani, baixo/guitarra/synths e programações.

Se alimentando fortemente de influências diversas que vão do pos punk, tecnopop oitentista passando por trip hop com suaves inserções de dreampop o S.E.T.I. em meados de agosto soltou um sofisticado e elegante disco chamado Êxtase.

O disquinho é uma trip com extremo charme e como coloquei elegância, arranjos de alto bom gosto sempre com um clima melancólico e introspectivo, e tem chamado atenção como era de se esperar de muitos gringos e também atraindo um séquito de admiradores daqui do Brasil, mas veja, somente iniciados e interessados em música de real qualidade.

O S.E.T.I. vem reforçar que o submundo dos bons sons do país transpira qualidade e modernidade.

Ah sim, destaque para belíssima homenagem a Benjamin Curtis, na auto explicativa, Benjamin. Curtis era guitarrista do School of Seven Bells e infelizmente nos deixou em 2013, por conta de um câncer fatal,

Música pra gente grande

***** Entrevista com S.E.T.I.*****


Q. Quanto tudo começou? Porque S.ET.I., qual a origem do nome?
BRUNO: O S.E.T.I. começou na metade de 2012. Até 2010, morei nos EUA, onde tive uma banda em formato tradicional -guitarra, baixo e bateria. Eu já tinha me enchido desse esquema e quando voltei estava querendo algo no formato do S.E.T.I., com bateria eletrônica e menos gente fazendo mais coisas. Passei dois anos aqui até que a Roberta, que sempre escreveu muito, topou. O nome da banda é inspirado no instituto SETI, que promove pesquisas para a descoberta de vida fora da Terra. Achei em um Atlas sobre pesquisas espaciais, que é um tema que me fascina muito. Achei que casava bem com a nossa busca por uma sonoridade moderna e o uso de sintetizadores e computadores. Além disso, é uma sigla facilmente pronunciável em português.

Q. Quais as suas influências?
BRUNO: O que abriu meus olhos para o que fazemos foi um show do Nine Inch Nails, que assisti em Oakland na Califórnia. Saber que tudo aquilo nasce da mente de uma pessoa (claro, com a ajuda de alguns colaboradores) me inspirou a buscar o formato. Mas na bagagem carregamos um pouco de anos 80 (Depeche Mode, A-ha, Tears for Fears), um pouco de 90 (incluindo estilos que vão desde trip hop e shoegaze ao grunge) e um pouco do rock misturado com música eletrônica que surgiu na última década (tipo, The Klaxons, Cut Copy, Phantogram). Enfim, acho que somos o resultado dos últimos 30 anos de música. rs

Q. E sobre a atual cena parece que estão nascendo bandas em tudo que é esquina, quais bandas da nova geração você recomenda?
ROBERTA: Não é porque os caras apareceram na Globo, mas já vinha seguindo o Scalene há algum tempo. Eles são bons. A Mahmundi é muito boa também! Também tem Silva, Aldo... Na nossa região, tem uma banda em Americana que é muito boa, chamada Sexo. Os caras são porrada demais. E em Valinhos tem uma dupla chamada Melancolia Lettícia, que faz uma mistura de folk com punk. São bem talentosos, mas são um diamante bruto. Queria ouví-los nas mãos de um produtor grande.


Q. Por que tem tanta banda bacana e mesmo assim tem pouca gente nos shows, poucos picos pra tocar, qual a sua opinião sobre o assunto?
BRUNO: Porque o Brasil é o país do cover. Vai ver se o AC/DC cover está tocando para pouca gente. O fato é que o Brasil é um país conservador em muitos aspectos e isso se extende para a cultura musical. Sempre vão atrás do que já é conhecido. Veja, por exemplo, quando algum artista famoso daqui decide "homenagear" outro. Sempre escolhe a música mais famosa. Um cover de Paralamas sempre vai ser "Meu Erro" nunca de outra canção mais obscura. Então, quando o cara decide sair, ele sempre vai procurar o bar ou clube que rola apenas aquilo que ele já conhece. É diferente do que é feito em outros países, onde as casas têm tradição de levar bandas autorais boas. Nesses lugares, você frequenta os bares sabendo que vai encontrar coisa nova e boa. Isso tudo, claro, afeta o cardápio de bandas oferecido pelos donos de bar. Se o povo quer cover, não vai oferecer autoral. E assim temos um ciclo vicioso. Toda casa de cover devia, no mínimo, deixar uma banda autoral fazer a abertura (nem que fosse 40 minutos) para tentar difundir algo novo. O conservadorismo é tão grande que em, alguns casos, a banda brasileira precisa ser elogiada fora do Brasil antes de ganhar atenção aqui. Isso é uma piada.

Q. Como foi o processo de gravação do ep?
ROBERTA: Foi um processo intenso. Levamos muita coisa pronta para o estúdio, então os meses que antecederam esse momento foram de muito trabalho. Começamos a trabalhar para valer em dezembro do ano passado, quando terminamos a agenda de shows. Era um trabalho quase diário - arranjos, timbres, melodias, letras. Sempre tinha alguma coisa para mexer. Depois, em maio, ficamos 15 dias confinados (12 horas por dia) no Estúdio Minster, do Ricardo Palma, em Campinas. Ele coproduziu o disco, abraçando a causa de forma brilhante. Sem ele, não teríamos atingido esse nível de excelência, pois ele tirou tudo da gente e nós também pudemos exigir tudo dele. Depois desse período, levamos tudo o que foi registrado para casa e trabalhamos nos detalhes, polindo tudo o que foi feito. Voltamos um mês depois para mais 3 dias de confinamento. Na parte final, tivemos um mês de trocas quase diárias de e-mails gigantes sobre a mixagem e a masterização. Mas valeu a pena porque ficou demais!

Q. Quais os 5 melhores álbuns da história para você?
ROBERTA: Não estão por ordem de importância:
1)"Voices" - Phantogram;
2)"Image and Words" - Dream Theather;
3)"The Alternative" - IAMX;
4)"Hunting High and Low" - A-ha;
5)"Violator" - Depeche Mode

BRUNO: Também não estão por ordem de importância:
1) "Nevermind" - Nirvana;
2) "Tiny Music" - Stone Temple Pilots;
3) "The Alternative" - IAMX;
4)"Violator" - Depeche Mode;
5)"Mezzanine" - Massive Attack

Q. Quais os planos pro futuro, o que esperar do S.E.T.I.?
BRUNO: Nós somos operários da música. Então, pode esperar muito trabalho. Nunca vamos parar, pois queremos chegar o mais longe possível com o nosso som. Vamos desenvolver essa carreira. No curto prazo, teremos uma agenda de shows por todo o estado de São Paulo e um clipe da música "Benjamin". Isso é o que deve acontecer até o final do ano. No ano que vem, muito mais shows, quem sabe já alguns em escala nacional. Temos vontade de trabalhar com o Gordon Raphael, que produziu os Strokes e elogiou nosso disco, e alguns outros produtores estrangeiros como John Hill (produtor da Santigold e M.I.A.) e o Josh Carter (guitarrista do Phantogram).

Q. Alguma coisa a mais para nos contar?
ROBERTA: A música "Benjamin", uma das que recebeu mais comentários positivos, é inspirada na vida de Benjamin Curtis, guitarrista do School of Seven Bells, um duo que gostamos bastante. Ele morreu em 2013 de um câncer que havia sido diagnosticado meses antes. A história é bem emocionante. Um dia ele estava bem, e no outro lutando uma batalha impossível. Nós mandamos a música para a Alejandra, a vocalista, e ela disse que achou linda. Ficamos bem felizes por saber que ela aprovou nossa homenagem.
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Obrigado

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